Há no futebol dois ícones que jamais deveriam ser maculados: a camisa 10 e a faixa de capitão. Simbolismo importa. Apenas os genuinamente aptos deveriam ostentá-las. Se não houver no time um jogador extraclasse, aquele que enxergue antes e além dos demais, que se preserve o número por um tempo. A braçadeira, por sua vez, não pode descansar. Mas convenhamos que é bem mais fácil encontrar um líder do que um craque.
Pelé, aquele que fez tudo que os outros gênios da bola fizeram, antes e mais vezes, tem tudo a ver com essa prosa. Foi o Rei quem moldou o significado da camisa 10, usada por acaso no título mundial de 1958. Era o “dez e faixa”, portanto, podem convir os mais jovens. Negativo. Braçadeira de capitão é coisa tão séria que nem o maior de todos podia usar só por nome. Cabia a Zito o papel de ser o exemplo em campo no Santos. Até Pelé baixava a cabeça ao ouvir o Gerente da Vila. Os dois devem estar se revirando no túmulo diante do papelão protagonizado por Neymar.
O camisa 10 (item que veste, isso sim, com indiscutível mérito) foi uma triste caricatura do eterno menino mimado na derrota por 3 a 2 para o Flamengo no Maracanã. Em seu retorno ao time titular, visivelmente fora de ritmo, bateu cabeça com os colegas ao longo de todo o jogo. Xingou árbitro, companheiros e ironizou sua substituição — que, aliás, fez o time melhorar.
Sim, é fato que os jogadores da equipe que ocupa a zona de rebaixamento não acompanham seu raciocínio, e isso irritaria qualquer um. Mas também é notória a falta de entrosamento, provocada especialmente pela ausência constante do veterano de 33 anos. Sem falar na questão anímica.
Neymar x Zé Ivaldo: qual o papel de um líder?
Em um dos lances mais impactantes, Neymar, inquieto ao ver só o Flamengo jogar, trotou até a própria área para bater o tiro de meta. Tocou para Zé Ivaldo, na intenção de receber de volta e organizar o jogo a 90 metros de sua meta. Ficou revoltado ao ver o colega dando o chutão que ele tanto quis evitar.
A trapalhada mostrou: que Zé Ivaldo, além de limitado, está sem confiança; que Neymar não é respeitado ou compreendido pelo grupo e a recíproca é verdadeira; e que, pela enésima vez, o “Menino Ney” não respeitou a orientação do técnico para que não baixasse até a defesa.






