Sempre tive certa ressalva com narrativas audiovisuais que exploram questões relacionadas à superação individual. Como se nós, enquanto indivíduos, tivéssemos capacidade de sozinhos mudar uma realidade social coletiva. Mulheres no pódio consegue fugir desse viés ao contar a história de três grandes mulheres: a lançadora e arremessadora Tuany Barbosa, a halterofilista Mariana D’Andrea, a mesatenista Sophia Kelmer e a nadadora Carol Santiago.
Comum a essas quatro brasileiras é o fato de serem atletas paralímpicas. Carol, pernambucana, é a mulher mais vitoriosa do esporte paralímpico brasileiro e atual recordista mundial dos 50m livre de natação. Foi ouro nos 50m livre, 100m livre e 100m costas nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Sophia, carioca, é tetracampeã brasileira no tênis de mesa e, com 16 anos, foi a brasileira mais jovem a participar dos Jogos de Paris 2024. Mariana, paulista, foi medalha de ouro no halterofilismo nas últimas paraolimpíadas e é dona do atual recorde mundial da classe com 151kg. Tuany, carioca, é ex-atleta de judô e reinventou-se no atletismo após um acidente. Foi prata no arremesso de peso e bronze no lançamento de disco nos Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019.
Perceba que apresento as quatro pelas conquistas esportivas delas, e não pelas deficiências. Superar esses estereótipos é missão de todos nós, se de fato nos preocupamos com uma sociedade mais inclusiva. A tal da inclusão não deve ser apenas discurso pronto de CEO’s e coachs. Reconhecer uma atleta paralímpica apenas como atleta é urgente! Nesse sentido, o diretor André Bushatsky acerta ao evitar o sensacionalismo e optar por um filme muito mais de escuta do que de discurso.
Logo no início ouvimos, enquanto observamos o belíssimo mar do Rio de Janeiro, o técnico falar que não adianta apenas tentar: “É preciso ir lá e fazer”. Tuany vai direto ao ponto: a indiferença das pessoas dói mais do que a deficiência dela. Por isso o cuidado ao reunir amigos, parentes, profissionais diversos e membros da equipe técnica das atletas. Essa potente rede de apoio é fundamental no esporte paralímpico.
Além da vulnerabilidade do corpo, o documentário acaba debatendo também outras questões essenciais às quatro protagonistas: ser mulher numa sociedade machista, manter a saúde mesmo com limitações físicas, construir relações afetivas a partir do esporte.
“O lançamento do filme é uma oportunidade para celebrar as vitórias dessas mulheres e refletir sobre os desafios que enfrentaram para chegar aos pódios. A obra contribuirá para a valorização e o reconhecimento das atletas paralímpicas e para fortalecer o Movimento Paralímpico brasileiro como um todo. Além disso, a maior participação feminina no esporte adaptado é um dos pilares do nosso planejamento estratégico, que estamos, neste presente momento, revisitando, e a promoção dos feitos e das trajetórias delas contribuem para o aumento da conscientização da população em relação à inclusão das mulheres com deficiência na sociedade por intermédio do esporte”, afirma José Antônio Freire, presidente do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro).





