Coroada campeã pela terceira vez, no Catar, em 2022, a Argentina de Lionel Messi agora sonha em alcançar na América do Norte, em 2026, as tetracampeãs da Copa do Mundo, Alemanha e Itália.

Os dois países europeus são constantemente apontados pelas bandas de Buenos Aires como responsáveis indiretos pelo fato de a seleção argentina não ter mais títulos mundiais. A culpa recai sobre dois dos nomes mais nefastos da história da humanidade: Adolf Hitler e Benito Mussolini , líderes do nazismo e do fascismo entre as décadas de 30 e 40.

Esta história sobre futebol e guerra foi contada em detalhes nos primeiros capítulos do livro Copa Loca, as Inacreditáveis Histórias da Argentina nos Mundiais, escrito por Celso de Campos Jr., Giancarlo Lepiani e Tales Torraga, três jornalistas brasileiros admiradores do futebol portenho.

Confira, abaixo, o contexto da época e um capítulo de Copa Loca. 

Hitler, Mussolini e o futebol na II Guerra

A Argentina, bem como o rival Uruguai, possuía uma seleção fortíssima e alguns dos principais jogadores de uma era não globalizada do esporte inventado décadas antes pelos britânicos. Tanto que os vizinhos do Rio da Prata fizeram a final da primeira Copa do Mundo, em 1930, organizada e vencida pelos uruguaios em duelo repleto de tensão no Estádio Centenário de Montevidéu, repetindo o roteiro da final das Olimpíadas de Amsterdã em 1926.

Acredita-se que a Argentina, em condições normais, poderia ter vencido um ou mais Mundiais entre as edições de 1934, 1938, 1942 e 1948. Isso se as duas primeiras não tivessem sido tão afetadas pelo contexto político da época, e as duas últimas canceladas em razão dos horrores da Segunda Guerra Mundial.

Na transição do amadorismo para a profissionalismo no futebol, os Mundiais ainda enfrentavam fortes pressões políticas e os casos de boicote eram comuns. O Uruguai, por exemplo, é até hoje o único campeão mundial a não participar da edição seguinte.

A Argentina até mandou um time para a edição de 1934, sediada pela Itália no auge da popularidade de Mussolini, um entusiasta da modalidade, torcedor do Bologna e simpatizante da Lazio. Mas a seleção alviceleste não pôde contar com as estrelas de River Plate, Boca Jrs, Racing e demais equipes da recém-formada liga profissional, não reconhecida pela Fifa.

Com um time “varzeano”, a Argentina caiu logo na primeira partida do formato eliminatório (3 a 2 para a Suécia) e viu a anfitriã Itália conquistar o título diante da Tchecoslováquia com direito a um gol de Raimundo Orsi, um dos três argentinos cooptados pela Azurra, em tempos mais liberais para naturalizações. O sucesso no futebol serviu como um importante aliado para a propaganda fascista de Mussolini.