Os carros das estrelas de futebol costumam mexer com o imaginário dos torcedores. Já em 1971, época em que a oferta de automóveis não era tão vasta como atualmente, PLACAR, em seu segundo ano de vida, se dispôs a saciar a curiosidade de seus leitores, ao mostrar quais eram os “possantes” dos atletas do Corinthians, em ensaio comandado pelo fotógrafo Lemyr Martins. O craque Roberto Rivellino (à época grafado como Rivelino), tricampeão mundial no México no ano anterior, era quem tinha o carrão mais invejável, um Mustang azul.

“O desfile começa meia hora antes do treino: carros de linhas modernas, de cores variadas, muito bem cuidados. Os carros são a alegria dos jogadores do Corinthians, que têm por eles verdadeira paixão”, dizia a reportagem. “Os carros variam, mas em todos um acessório é comum: toca-fitas.”

Ao rever as fotos, Flavio Gomes, apresentador de PLACAR TV e especialista em carros, chama atenção para a placa do carro do goleiro Ado. “Era Ad0678. Lê-se ADO (seu nome) 67 (ano) 8 (cilindros). Coisas que se faziam antigamente.”

Em fevereiro de 2020, PLACAR inaugurou uma seção especial para rememorar reportagens deste tipo em sua edição impressa, com as devidas contextualizações para a realidade atual. O blog #TBT PLACAR reproduz o texto, abaixo:

Meu carango é papo firme!

Um treino do Timão “é um verdadeiro desfile de máquinas de rachar”, escreveu PLACAR nos anos 1970. Saiba como eram os possantes comprados graças aos bichos

PLACAR recuperará reportagens antigas que ajudaram a construir a história da revista – revisitadas aos olhos de hoje, para que sejam entendidas em seus contextos originais. Nesta edição, recorda-se o espanto causado a torcedores e jornalistas pelo “luxo” dos carros utilizados pelos jogadores do Corinthians em 1971.

“O desfile começa meia hora antes do treino: carros de linhas modernas, de cores variadas, muito bem cuidados. Os carros são a alegria dos jogadores do Corinthians, que têm por eles verdadeira paixão.” Assim começava a reportagem, publicada em 22 de janeiro de 1971, sobre os bólidos dos craques alvinegros. “Os carros variam, mas em todos um acessório é comum: toca-fitas.”

Há muitos anos boleiros e carros formam uma dupla inseparável. Atualmente, a Audi, por exemplo, patrocina o Real Madrid e dá a cada atleta um de seus modelos – em troca, eles precisam ir a todos os treinos com o singelo mimo e, assim, expor a marca. E, é claro, muitos craques têm pequenas coleções na garagem: Mercedes, Ferraris, Lamborghinis e outros sonhos de consumo.

Em 1970, quando PLACAR foi lançada, a seleção se preparava para a Copa do Mundo, que seria disputada no México. Em 21 de julho, dias após a conquista do tri, Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo, presenteou jogadores e integrantes da comissão técnica com 25 Fuscas verde-musgo zero-quilômetro, comprados com dinheiro público. Processado por lesar os cofres da prefeitura sem beneficiar a cidade, Maluf foi condenado, mas recorreu diversas vezes até que, 36 anos depois (!!!), o Supremo Tribunal Federal o absolveu com a alegação de que a Câmara Municipal havia aprovado uma lei com esse objetivo e, portanto, o gasto era constitucional – para muitos, o episódio é lembrado como exemplo da morosidade da Justiça, da corrupção e da falta de ética na política (práticas em que avançamos muito pouco nestas últimas cinco décadas).