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Hugo Souza reflete sobre erros e promete jamais jogar no Palmeiras
Hugo Souza reflete sobre erros e promete jamais jogar no Palmeiras
Capa da edição de outubro da PLACAR, goleiro do Corinthians abre o coração em entrevista exclusiva para falar sobre fidelidade ao Timão, racismo e Copa de 2026
No melhor momento da carreira, Hugo Souza posa para as lentes de Placar – Alexandre Battibugli/Placar
Convocado e já antecipadamente escalado pelo técnico Carlo Ancelotti como titular da seleção brasileira no primeiro jogo da próxima Data Fifa, o goleiro Hugo Souza vive o melhor momento de sua carreira aos 26 anos.
Capa da edição de outubro, o camisa 1 do Corinthians conversou por quase 50 minutos com a reportagem de PLACAR, no CT Joaquim Grava, fazendo juras eternas de amor ao clube e assegurando que jamais jogará um dia no arquirrival Palmeiras, comparando o compromisso com o clube que o tirou do fundo do poço na carreira a um pacto espiritual. Ele também fala sobre o significado de chegar à Copa de 2026, faz uma reflexão sobre os erros do passado e se posiciona sobre o racismo no futebol.
PLACAR disponibiliza alguns trechos da reportagem abaixo. O material completo pode ser lido na versão digital a partir desta semana (clique aqui e vire membro) e na revista impressa, que chega às bancas na próxima sexta-feira, 10, ou pode ser adquirida em nossa loja no Mercado Livre.
“As pessoas dizem que nunca sabem o dia de amanhã, mas quando você cria amor por uma camisa, cria também um respeito muito grande. Eu estava no pior momento da minha carreira quando o Corinthians me encontrou, e foi aí que pude viver o melhor período de todos. Vejo isso como forma de gratidão. Eu não sei se vou ficar aqui mais dez anos, se vou sair mais para a frente, nem para onde minha carreira vai me levar, mas para mim é sobre lealdade. Vou um pouco além: é espiritual. Como se o Corinthians fosse minha esposa, e eu sou leal a ela. A Bíblia ensina que o esposo precisa amar a esposa como Jesus amou a igreja. E como foi isso? Dando a sua própria vida por ela. Estou usando essa analogia para falar que é essa lealdade que carrego para minha vida: compromisso absoluto, selado e inquebrável”.
Defesa na final do Estadual colocou para sempre o nome de Hugo na história do Timão – Rebeca Reis/Ag. Paulistão
Noitadas, bedidas… os erros do passado
“Sendo muito sincero, quando mais novo fiquei muito marcado por causa de noitadas, bebidas e esse tipo de coisa. Só que, na verdade, isso nunca fez parte do meu cotidiano. Naquela época, eu não bebia. Aliás, até hoje eu só bebo esporadicamente. O problema foi que fiz uma festa no momento errado, e que gerou uma repercussão muito grande. As pessoas rotulam muito rápido: é como uma falha dentro de campo que fica marcada para sempre, mesmo que não represente o jogador por completo. É claro que eu tive minhas falhas, não omito isso. Houve um período em que me distraí do futebol para viver o que o futebol me proporcionava. Se não tiver alguém para te puxar de volta, você acaba se perdendo nesse processo. Eu não tinha nada. Minha vida sempre foi de luta. Meus pais e eu passamos por muitas dificuldades, mas superamos todas da melhor forma possível. Então, para um menino que não tinha nada, de repente ter todas aquelas oportunidades e facilidades era tentador. O foco deveria ser o futebol, e não os benefícios que vinham com ele. Eu precisei entender isso. Essa foi a principal mudança da minha vida e da minha carreira: perceber que não é proibido festejar, mas existe um tempo certo para cada coisa – no momento de lazer, nas férias. Saber separar os momentos”.
Deslizes no passado levaram o jogador ao calvário dentro e fora das quatro linhas – Rebeca Reis/Ag. Paulistão
Críticas (e redes sociais) não abalam mais
“Eu sou um cara que trabalha muito e também sou muito exigente comigo mesmo. Além disso, tenho um treinador de goleiros que é ainda mais rigoroso. Estamos sempre buscando a perfeição em tudo. Fui muito criticado ao longo da minha carreira por não saber jogar com os pés e desafio as pessoas a conferirem meus números no fundamento na última temporada. Neste ano, também fui muito criticado por ter saído errado do gol em uma jogada, mas se alguém analisar os números, verá que o erro foi pontual. Não estou dizendo que não preciso melhorar, me concentro na minha evolução. Sei aonde quero chegar e me cobro muito, até por entender o tamanho do meu talento e por ter passado por críticas pesadas. A internet, por exemplo, é terra de ninguém. As pessoas não medem palavras para criticar. Já acompanhei mais, mas percebi que isso me atrapalhava. Posto apenas sobre futebol, às vezes alguma publicidade ou parceria, mas não estou sempre mostrando minha vida. Minha esposa é influenciadora, então quem quer acompanhar nosso dia a dia acaba seguindo mais ela. Minha maior referência de vida é Jesus Cristo e nem ele agradou todo mundo. Só espero continuar agradando o Ancelotti, o Taffarel, o Dorival e, claro, a Fiel Torcida”.
Hugo com os repórteres Enrico Benevenutti e Klaus Richmond – Alexandre Battibugli/Placar
Racismo: o dedo na ferida
“A tolerância para um goleiro negro é menor que para um goleiro branco? Eu lembro que quando falei sobre isso fui bastante criticado, inclusive por ex atletas que também erraram e foram criticados, mas que não tinham o mesmo tom de pele que eu tenho. Esse é um assunto sobre o qual não tenho medo de falar. Nem deveria ser pauta, mas, enquanto for, vou continuar batendo nessa tecla. Só entende quem vive na própria pele. Hoje tenho um lugar em que sou respeitado pelo meu trabalho, e, sendo um homem negro, vou usar minha posição para ajudar quem não tem as mesmas oportunidades. Continuo acreditando que todo mundo pode chegar aonde quiser – o preto, o favelado, pode sim conquistar seus objetivos. Mas também sei que, para nós, é muito mais difícil. A realidade não ajuda, ela atrapalha. Mesmo assim, eu consegui, trabalhei e sigo todos os dias enfrentando essas barreiras. Quero ser exemplo. Não só eu: o Vinicius Júnior é o melhor jogador do mundo e mostra isso, todos veem o que ele enfrenta. Fora do Brasil, ele passa por episódios lamentáveis, e o que me causa mais agonia é ver pessoas dizendo que o Vinicius provoca essas situações. Não consigo entender em que ponto eu, como jogador ou ser humano, poderia causar em alguém a necessidade de me atacar pelo tom da minha pele. Isso não existe. E respeito muito o Vinicius, não só por já ter jogado comigo, mas por ser um cara que abraçou essa causa. Que bom que temos pessoas com coragem para levantar essa bandeira”.
No CT Joaquim Grava, local que aprendeu a chamar de casa: ‘só falta uma prainha’ – Alexandre Battibugli/Placar
O sonho da Copa
“Eu quero ser esse cara que tem a oportunidade de vestir a camisa da seleção, de viver o meu sonho, que é também o sonho de 98% da população brasileira. Jogar na seleção é o ápice da carreira de qualquer jogador. Vou trabalhar muito para estar na Copa. Mais do que meu sonho, é também o sonho do meu pai. Então, estou realizando o sonho de muita gente, pessoas que estiveram na minha trajetória e me ajudaram, mas também de quem me olha como referência. Eu tive inspirações, e hoje vejo pessoas, principalmente crianças, se inspirando em mim. O futebol é mágico. Um idoso pode te abraçar da mesma forma que uma criança, e o olhar é sempre o mesmo, de carinho e admiração. Isso é muito gratificante, porque nós somos seres humanos como eles, mas carregamos o sonho que muitos não conseguiram viver. Só quem está dentro do futebol sabe explicar isso, e poucos são os privilegiados que vivem essa experiência”.