Ao caminhar pela Avenida Escola Politécnica, na zona oeste de São Paulo, Koosha Delshad, 41, cumpriu quase que uma liturgia durante sua rotina diária nos últimos sete meses.

Arrascaeta, Roger e Neymar são destaques da PLACAR de fevereiro

O técnico iraniano de futebol percorreu, dia após dia, exatos 3,4 km a pé do local onde mora, em Osasco, até a escolinha onde dava aulas. Sempre utilizando um fone de ouvido sem fio, embalado por uma playlist curiosa que ia desde Raça Negra – a canção preferida é “Cheia de Manias” (popularmente conhecida como “Didididiê”) –, passando por Roberto Carlos, pelo cantor iraniano Ebi, até nomes como Bob Dylan, U2 e Pink Floyd.

A caminhada foi uma forma de economizar no transporte, devido ao pequeno valor mensal que recebia pelas 11 aulas semanais para garotos entre 5 e 15 anos, utilizado quase que integralmente para pagar o aluguel que divide com a mãe. Mas também virou uma terapia improvisada em tempos difíceis.

Treinador iraniano foi chamado de 'homem bomba' e 'terrorista' na passagem por clube do Piauí - Alexandre Battibugli/Placar

Com calção e boné da CBF Academy, iraniano precisou buscar recomeço no futebol – Alexandre Battibugli/Placar

Dois anos depois de ganhar notoriedade nacional ao pedir demissão e desabafar publicamente contra ataques xenofóbicos recebidos durante uma partida da primeira divisão do Campeonato Piauiense – foi chamado de “homem-bomba” e “terrorista” por uma parte dos torcedores do Comercial-PI por ser iraniano –, o treinador lutou bravamente para vencer outro adversário: o esquecimento.

Se na ocasião concedeu entrevistas a grandes jornais e emissoras, recebendo enxurradas de ligações de companheiros de profissão, além do apoio público de entidades como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a FPF (Federação Paulista de Futebol), por meses viveu a sensação de parecer invisível.