De saída do Tottenham: para onde vai Son Heung-min?

Aos 23 anos, o atacante sul-coreano assinou contrato por cinco temporadas, numa transferência de £ 22 milhões (122 milhões de reais), valor que, na época, o fez ser o jogador asiático mais caro da história do futebol. A contratação representava não só a aposta dos Spurs em um talento emergente, mas também carregava expectativas comerciais, dado o potencial de Son para expandir a marca do clube na Ásia.

O técnico Mauricio Pochettino, fazia sua segunda temporada no comando do Tottenham, e via em Son um reforço versátil para o ataque, capaz de atuar pelos lados ou como segundo atacante, complementando o artilheiro Harry Kane.

Paul Mitchell era o chefe de recrutamento dos Spurs e, no começo, foi muito criticado por apostar em Son. “Recebi muitas críticas no meu primeiro ano no Tottenham por algumas das minhas decisões, e o Sonny estava no centro disso, e foi uma espécie de aprendizado para mim; às vezes os jogadores precisam de tempo”, disse em uma entrevista ao Sky Sports. 

“Começou a crescer essa narrativa interna e externa de que ele não era um bom finalizador, e lembro-me de um dos membros da comissão técnica me dizer isso quando eu estava assistindo a um treino, e eu disse: ‘Você está errado, porque o histórico dele em dois clubes diferentes mostra que ele é um finalizador muito astuto em ambos os lados’”, completou Mitchell.

Adaptação difícil e virada

Realmente o começo não foi fácil, a adaptação ao futebol inglês se mostrou muito complicada na sua primeira temporada. Logo em seu início, uma lesão no pé, interrompeu seu ritmo. Pochettino contava com um elenco jovem e talentoso, nomes como Erik Lamela, Christian Eriksen e Dele Alli eram frequentemente titulares nas posições ofensivas, deixando o sul-coreano muitas vezes no banco. 

Em meio à frustração por atuar menos do que desejava, Son quase deixou o clube após a primeira temporada. “Cheguei perto de ir embora. Fui ao escritório do (Pochettino) e disse a ele que não me sentia confortável e que queria ir para a Alemanha,” relembrou o jogador em 2019. 

Mesmo assim, o técnico recusou o pedido e insistiu para o jogador permanecer e lutar por seu lugar. “Deixamos claro com o Son que ele precisa conquistar o direito de jogar”, explicou Pochettino. “Ele queria sair depois de um ano ruim, mas eu disse a ele… que não íamos deixá-lo ir por pouco. Ele decidiu ficar.”

A virada de chave começou nesse momento, com a resposta vindo em campo. Na temporada  seguinte, já adaptado e motivado, marcou gols e se destacou na Champions League. Com Kane lesionado, o sul-coreano assumiu protagonismo, e atuou bem como centroavante e comandando o ataque dos Spurs. Em setembro de 2016, Son foi eleito Melhor Jogador do Mês da Premier League, se tornando o primeiro asiático da história a receber o prêmio; e novamente em abril de 2017, sendo o único jogador a conquistá-la duas vezes naquele campeonato. 

Ao terminar a temporada 2016/17 com 21 gols no total, o Tottenham conseguiu uma ótima campanha, chegando na segunda colocação na Premier League. A partir daí, “Sonny”, como passou a ser chamado pelos fãs, marcou sua vaga de vez no elenco. 

Consolidação e estilo de jogo marcante

Son não apenas se firmou, mas evoluiu progressivamente a cada temporada. Conhecido por sua velocidade, finalização precisa e capacidade de usar as duas pernas com a mesma qualidade, se destacou também pela inteligência e pelo entrosamento com os companheiros. Uma química com Harry Kane era a maior formula do Spurs. Juntos, combinaram 47 gols, dando assistências para o outro, na Premier League, recorde de uma dupla na competição.

Em suas características, Son sempre apresentou velocidade intensa, trocando de posição pelos lados com facilidade e infernizando as defesas em contra-ataques. Sua habilidade de finalizar, com ambas as pernas, provou ser essencial. Outra principal arma era driblar em alta velocidade ou tabelar com os colegas, algo que lhe fez conquistar o Puskás de gol mais bonito em 2019.

Além disso, o sul-coreano sempre exibiu enorme entrega sem a bola, ajudando na marcação sob pressão. Essa combinação de esforço técnico, qualidade na finalização criou a imagem de Son como um jogador completo e confiável.

Temporadas de destaque, gols memoráveis e recordes

Em uma década nos Spurs, Son colecionou feitos individuais impressionantes e protagonizou momentos históricos. Em 2018-19, foi peça-chave na campanha que levou o Tottenham à final da Liga dos Campeões da Uefa. Nas quartas, contra o Manchester City, Son brilhou, marcando o gol da vitória por 1×0 no jogo de ida e, na partida de volta, anotou dois gols em pleno Etihad Stadium. O sul-coreano novamente foi decisivo, colocando o Tottenham em sua primeira final de Champions desde 1962. 

A temporada 2021/22 foi a de mais gols em sua trajetória. Son anotou 23 gols na Premier League, sendo artilheiro do campeonato, junto a Salah. Ainda mais impressionante foi nenhum desses gols ter sido de pênalti, o que valoriza ainda mais a conquista.

Ele se tornou o primeiro jogador asiático a ser artilheiro da Premier League em uma temporada. Ganhando uma vaga na Seleção do Ano da PFA (Associação de Jogadores) e o prêmio de Jogador do Ano de 2022 na Premier League pelo London Football Awards. 

Em 2023, alcançou outro marco histórico ao anotar o seu centésimo gol na Premier League, tornando-se o primeiro asiático a atingir a centena de gols na liga inglesa.

A cereja que faltava

Se houve um ponto que destoou na brilhante trajetória individual de Son Heung-min pelos Spurs, foi a ausência de títulos coletivos. Por anos, a falta de taças assombrou o clube e seus torcedores. Harry Kane era motivo de piada por nunca vencer um título oficial. 

Apesar de se firmar como força constante na parte de cima da tabela e nas competições europeias, os Spurs sempre esbarravam no momento final. Son foi vice-campeão inglês em 2016/17, vice da Champions League em 2019 e vice da Copa da Liga Inglesa em 2021. 

Mesmo acumulando artilharias e prêmios individuais, a sala de troféus em Londres seguia trancada. Son admitiu em entrevistas que sonhava dar uma taça à torcida e que sentia essa cobrança. “Eu queria isso desesperadamente…”, disse após uma das derrotas em finais.

Essa narrativa, ganharia um capítulo salvador em 2025. Quase dez anos após sua chegada, o final da temporada 2024/25 guardou um desfecho de filmes ao Tottenham. Na decisão da Liga Europa, os Spurs venceram o Manchester United por 1×0 e conquistaram seu primeiro título importante desde 2008. Capitão da equipe, Son Heung-min pôde enfim levantar uma taça pelo clube, coroando uma década de esforços.

Despedida em grande estilo e novo capítulo na carreira

Após dez anos de uma relação intensa e frutífera, chegou o momento do adeus. Em agosto de 2025, Son Heung-min anunciou oficialmente que deixaria o Tottenham Hotspur antes do início da nova temporada. Ele revelou que vinha refletindo havia algum tempo e que sentia ser “a decisão mais difícil da carreira”, mas a mais correta naquele momento. “Preciso de um novo ambiente para me desafiar… 10 anos é muito tempo. Cheguei ao norte de Londres como um garoto de 23 anos, saio como um homem feito, muito orgulhoso”, declarou.

No último jogo de sua turnê de pré-temporada com o Tottenham, um amistoso contra o Newcastle em Seul, sua terra natal, ele saiu de campo ovacionado de pé. Ambas as equipes formaram um “corredor de honra” enquanto Son, às lágrimas, acenava para as arquibancadas lotadas.