Uma perícia revelada nesta terça-feira, 6, mostra indícios de falsificação em um documento crucial para a sustentação jurídica do mandato de Ednaldo Rodrigues à frente da CBF. O laudo técnico divulgado pela Espn foi assinado pela perita em documentoscopia Jacqueline Tirotti e coloca sob suspeita a assinatura do vice-presidente Antônio Carlos Nunes no acordo que havia encerrado uma série de disputas judiciais e dado aparente estabilidade à presidência do dirigente baiano.

O documento em questão foi assinado pela Federação Mineira de Futebol, pelo ex-presidente da CBF, Rogério Caboclo, e pelos vices Antônio ‘Coronel’ Carlos Nunes, Fernando Sarney, Gustavo Feijó e Castellar Guimarães Neto. No texto, os signatários se comprometiam a “encerrar todos os litígios existentes” entre as partes e a “prevenir litígios futuros que digam respeito à legalidade” das Assembleias de 7 e 23 de março de 2022, que elegeram Ednaldo, “desistindo de todas as medidas judiciais e renunciando a quaisquer outros direitos ou pretensões que signifique ou possam significar um questionamento à legalidade das referidas Assembleias”.

Três meses depois, o mesmo documento se transforma no centro de uma nova crise. Segundo a perita, as assinaturas de Nunes “divergem do punho periciado em características personalíssimas e imperceptíveis”.

E conclui: “Portanto, conclui pela impossibilidade de veiculação do punho referente a Antônio Carlos Nunes de Lima em relação às assinaturas que lhe competem contidas nos objetos desta perícia. Bem como, concluindo pela fragilidade do documento questionado, em razão da ausência de rubricas e fixação de folhas, facilitando a troca de folhas.”

A análise, descrita em um laudo de 28 páginas repleto de imagens, também identificou incongruências envolvendo a procuração utilizada no processo. “Em relação à procuração, verifica-se que a procuração foi firmada em 19/01/2025, ou seja, cinco dias antes da assinatura do acordo datado de 24/01/2025, já conferindo ao procurador poderes específicos para pleitear a homologação judicial de um acordo ainda inexistente à época.”

Na sequência do parecer, a perita detalha ainda os aspectos técnicos que fundamentam sua conclusão sobre a suposta falsificação. “Quanto às assinaturas atribuídas a Antônio Carlos Nunes de Lima, foram observados alguns elementos discriminadores da escrita relevantes na análise, sendo priorizadas as características constantes e imperceptíveis, uma vez que os lançamentos paradigmas não apresentavam características raras ou complexas. Dentre as divergências mencionadas, têm-se: ataques e remates; movimento diminuto; construções gráficas; posicionamentos de mínimos gráficos; etc.”

A perícia foi encomendada pelo vereador do Rio de Janeiro Marcos Dias Ferreira (Podemos-RJ), que no mesmo dia 4 de maio encaminhou o material ao Ministério Público do Rio de Janeiro. “Os fatos que agora são trazidos ao conhecimento deste MPRJ configuram elementos graves que justificam a pronta atuação deste ‘Parquet’ para que adote as medidas necessárias para apurar a regularidade da referida assinatura e, consequentemente, do acordo firmado”, escreveu o parlamentar.